1 de outubro de 2025

SANEAMENTO BÁSICO

Entrámos em campanha para as Eleições Autárquicas de 12 de outubro. Até agora, temos assistido sobretudo a soundbytes, críticas, ataques pessoais e exercícios de vitimização. O que continua a não abundar são ideias concretas e propostas credíveis.

Não pretendo envolver-me demasiado nesta disputa eleitoral. No entanto, há uma promessa que tem sido repetida e que, pela responsabilidade de quem conhece o assunto, não posso deixar sem esclarecimento. Falo com independência e imparcialidade, porque este é o tempo da verdade se impor ao populismo.

Refiro-me à promessa de uma cobertura total do concelho com rede de saneamento básico. Quem conhece minimamente a realidade sabe que tal é tecnicamente inviável e financeiramente incomportável. É uma promessa impossível de cumprir.

A cobertura de saneamento não se mede pela quantidade de freguesias com rede instalada, mas sim pela percentagem da população que tem acesso efetivo ao serviço. Em Esposende, mais de 90% da população dispõe hoje de rede de saneamento à porta, o que coloca o concelho entre os que apresentam maior taxa de cobertura a nível nacional. Recorde-se que quando Esposende já ultrapassava os 80%, a maioria dos municípios ainda se encontrava na casa dos 40%.

As zonas que permanecem sem cobertura devem-se a duas razões claras: ou à  impossibilidade técnica de instalar rede em áreas acidentadas e demasiado dispersas, ou ao custo desproporcionado face ao número de potenciais utilizadores. Avançar nessas condições teria uma consequência óbvia: um aumento brutal dos custos operacionais e, inevitavelmente, uma subida significativa das tarifas para todos os utilizadores. Prometer o contrário é ocultar a verdade.

O que aqui escrevo não é simpático, não rende votos, não é popular, mas também não alimenta ilusões. É a realidade. E quem o faz é alguém que optou por investir 28 milhões de euros em redes e sistemas de saneamento, quando poderia ter optado por soluções bem mais vistosas. Quem sabe, um pavilhão Multiusos…

De qualquer forma, deixo aqui aos futuros decisores municipais uma sugestão como ex-autarca e um pedido como contribuinte e utilizador da rede de saneamento: se porventura decidirem e tiverem condições para avançar com mais investimentos em redes de saneamento, antes de o fazerem, façam contas. Façam muitas contas. E já agora, façam também uma avaliação prévia do número de potenciais utilizadores. É que correm o risco de instalar rede para 100 e depois só terem 10 a aderir ao serviço e a pagar o mesmo.