Entrámos em campanha para as Eleições Autárquicas de 12 de outubro. Até agora, temos assistido sobretudo a soundbytes, críticas, ataques pessoais e exercícios de vitimização. O que continua a não abundar são ideias concretas e propostas credíveis.
Não pretendo envolver-me demasiado nesta disputa eleitoral.
No entanto, há uma promessa que tem sido repetida e que, pela responsabilidade
de quem conhece o assunto, não posso deixar sem esclarecimento. Falo com
independência e imparcialidade, porque este é o tempo da verdade se impor ao
populismo.
Refiro-me à promessa de uma cobertura total do concelho com
rede de saneamento básico. Quem conhece minimamente a realidade sabe que tal é
tecnicamente inviável e financeiramente incomportável. É uma promessa
impossível de cumprir.
A cobertura de saneamento não se mede pela quantidade de
freguesias com rede instalada, mas sim pela percentagem da população que tem
acesso efetivo ao serviço. Em Esposende, mais de 90% da população dispõe hoje
de rede de saneamento à porta, o que coloca o concelho entre os que apresentam
maior taxa de cobertura a nível nacional. Recorde-se que quando Esposende já
ultrapassava os 80%, a maioria dos municípios ainda se encontrava na casa dos
40%.
As zonas que permanecem sem cobertura devem-se a duas razões
claras: ou à impossibilidade técnica de
instalar rede em áreas acidentadas e demasiado dispersas, ou ao custo
desproporcionado face ao número de potenciais utilizadores. Avançar nessas
condições teria uma consequência óbvia: um aumento brutal dos custos
operacionais e, inevitavelmente, uma subida significativa das tarifas para
todos os utilizadores. Prometer o contrário é ocultar a verdade.
O que aqui escrevo não é simpático, não rende votos, não é
popular, mas também não alimenta ilusões. É a realidade. E quem o faz é alguém
que optou por investir 28 milhões de euros em redes e sistemas de saneamento,
quando poderia ter optado por soluções bem mais vistosas. Quem sabe, um
pavilhão Multiusos…
De qualquer forma, deixo aqui aos futuros decisores
municipais uma sugestão como ex-autarca e um pedido como contribuinte e
utilizador da rede de saneamento: se porventura decidirem e tiverem condições
para avançar com mais investimentos em redes de saneamento, antes de o fazerem,
façam contas. Façam muitas contas. E já agora, façam também uma avaliação
prévia do número de potenciais utilizadores. É que correm o risco de instalar
rede para 100 e depois só terem 10 a aderir ao serviço e a pagar o mesmo.