6 de dezembro de 2022

ESCLARECIMENTO

A estrutura local de um determinado partido político acaba de emitir um comunicado a propósito da tragédia ocorrida recentemente na freguesia de Palmeira de Faro, tragédia que vitimou dois jovens.

No comunicado em causa é referido que “a Câmara aprovou, com um voto contra, em 31 de janeiro de 2019, uma interpretação da autoria de um gabinete privado, sobre o artigo do PDM que os técnicos diziam que o projeto violava”.

Ora, no comunicado é omitido, muito provavelmente de forma intencional e por razões de interesse político e partidário, quem votou contra a proposta de interpretação do artigo do PDM.

A bem da verdade e do rigor, importa esclarecer que o voto contra foi do movimento independente JUNTOS PELA NOSSA TERRA, tendo sido apresentada uma declaração de voto:



Reitero o que já tive oportunidade de escrever a propósito desta tragédia: tendo em conta a gravidade do ocorrido e, principalmente, a obrigação de se respeitar o sofrimento de quem perdeu familiares e amigos, o mínimo que se espera é que, em silêncio, se deixe que as autoridades competentes façam o seu trabalho, apurem a verdade e responsabilizem quem deva ser responsabilizado. Quem não resistir à tentação de fazer política com este caso, então que seja pelo menos rigoroso na abordagem dos factos.


9 de novembro de 2022

TALVEZ...

Miguel Alves, ex-Presidente da Câmara Municipal de Caminha e atual Secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro, está no centro do fogo mediático.

O atual governante assumiu a presidência do Município de Caminha no ano em que eu cessei funções como Presidente da Câmara Municipal de Esposende, o que significa que nunca privamos e nunca fomos colegas. A única vez que contactei com ele já foi no exercício de funções privadas e devo dizer que até nem fui muito bem atendido. Muito possivelmente o autarca caminhense já seria uma das muitas pessoas que já estaria condicionada na sua opinião relativamente à minha pessoa por obra e graça de algum espírito santo de orelha. Neste sentido, tudo o que possa aqui escrever e que seja entendido como favorável ao governante em causa não está minimamente condicionado por qualquer relação pessoal ou de amizade e muito menos por qualquer motivação partidária.

Quando ouvi as primeiras notícias sobre o “caso” que envolve Miguel Alves no exercício de funções autárquicas, e que está na ordem do dia, julguei tratar-se de mais um caso de alegada corrupção e favorecimento pessoal. Contudo, pelo que já tive oportunidade de ler e ouvir, não é propriamente isso que estará em causa. Ressalvo que posso estar a fazer uma análise errada por não estar em posse de toda a informação.

O que Miguel Alves aparentemente fez, foi aquilo que dezenas ou centenas de autarcas fizeram e continuam a fazer: uma habilidade para conseguir executar o que a autarquia, cumprindo as regras, jamais poderia executar.

Miguel Alves quis construir um mega Centro de Exposições, ou seja, mais um daqueles equipamentos municipais megalómanos que se construíram e constroem por esse país fora, completamente desajustados das necessidades e da dimensão dos municípios, e que em muitos casos ficam às moscas ou fechados porque depois nem sequer há dinheiro para os manter em funcionamento.

O problema é que não basta querer fazer: é preciso ter dinheiro.

Sendo o Município de Caminha um município de pequena/média dimensão, logo com recursos financeiros muito limitados, jamais teria capacidade para canalizar vários milhões de euros para a construção do Centro de Exposições. A alternativa poderia ser o recurso a um empréstimo bancário, só que o Município já estava endividado para além dos limites que a lei permitia, o que significava que do ponto de vista legal jamais conseguiria obter as autorizações necessárias para a contratação de mais um empréstimo.

Sem dinheiro próprio e sem possibilidade de pedir um empréstimo, havia que encontrar uma solução engenhosa para a construção do equipamento, até porque seria certamente do agrado da população, que regra geral pouco ou nada se importa com a situação financeira das câmaras e até nem se importaria que houvesse uma Altice Arena em cada concelho.

 A solução que Miguel Alves encontrou não teve nada de engenhoso, uma vez que foi uma espécie de parceria público-privada informal, à semelhança do que se fez em vários outros municípios: arranjou uma empresa que construísse o equipamento assumindo o respetivo custo, comprometendo-se o Município a pagá-lo em 25 anos, em “suaves” prestações a que chamavam “rendas”. No fundo, era comprar um equipamento às prestações.

É óbvio que nenhuma empresa arriscaria iniciar a construção de um equipamento de vários milhões de euros sem uma garantia de que iria depois ser ressarcida. É certamente neste sentido que surge o contrato-promessa de arrendamento de um equipamento que ainda iria ser construído.

Habilidades destas fizeram-se e fazem-se em todo o país sem que ninguém levante qualquer questão. O "azar" de Miguel Alves foi ter abandonado a Câmara Municipal e ter ido para o Governo, numa altura em que existe claramente uma caça jornalística às “irregularidades” e incompatibilidades envolvendo membros do Executivo.

Se não estiver em causa corrupção e favorecimento pessoal, pode mesmo assim considerar-se este procedimento ilegal? Talvez. Pode considerar-se do ponto de vista político e da gestão um procedimento correto? De forma alguma, porque se não for mais é indicador de uma postura infelizmente muito típica nos meandros autárquicos e que consiste no “eu faço agora e inauguro e quem vier a seguir que pague”.

Só tenho pena que a atenção que está a ser dada a este caso não seja dada também a casos muito mais graves, com outros protagonistas, e que envolvem alterações a planos de ordenamento para beneficiar construtores com mais construção ou legalização de construções ilegais; ajustes diretos fictícios para pagamento de despesas de campanhas eleitorais; ajustes diretos por valores 2 e 3 vezes superiores aos valores de mercado para favorecimento pessoal; constituição de sociedades por pessoas próximas de autarcas, com as mesmas a investirem centenas de milhares de euros em terrenos com localização estratégica e com potencial de valorização; processos judiciais envolvendo autarquias e empresas privadas, previamente acordados entre as partes, para branquear indemnizações milionárias; compra de terrenos destinados a habitação e posterior revenda para a construção de superfícies comerciais, com centenas de milhares de euros de ganho num curto espaço de tempo; avultados investimentos públicos na valorização de património privado; etc, etc, etc.

Voltando a ressalvar que não conheço os pormenores deste caso que envolve Miguel Alves, e tendo-me limitado a fazer uma análise em função daquilo que fui vendo e constatando como sendo infelizmente práticas comuns na gestão autárquica, arrisco dizer que este caso comparado com o que muito se vai fazendo por esse país fora, não passa de “pinutes”, como diria JJ.